
La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet;
Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.
Un éclair... puis la nuit! -- Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?
Ailleurs, bien loin d'ici! trop tard! jamais peut-être!
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j'eusse aimée, ô toi qui le savais!
Charles Baudelaire (Les Fleurs du Mal)
Abandonando qualquer tipo de descrição, Baudelaire designa nesse soneto a multidão.
A mulher viúva, a rua viúva, ambas descreviam luto. Misteriosa como a noite, é arrastada pela multidão, mas não antes de despertar o olhar do poeta. Rival da multidão, esta lhe traz uma passante que, como um relâmpago, também vai embora...
O vestido balançante vem juntar os cacos, suas pernas de gata, o olhar, tudo retorna a um tempo perdido, antigo, morto e distante...
O romance vem recuperar os sentidos em um tempo onde a consciência já está dispersa e fragmentada, a modernidade já está estilhaçada pelos jornais e folhetins lançados ao vento...
Num amor à primeira e à última vista, o poeta se encanta, é abordado pelo desejo sexual contido em um homem solitário. Tal forma de amor só pode ser experimentada por um habitante das grandes cidades, e este, mais do que nega, acaba por frustrar a sua realização.
Não a veria nunca mais, ou nunca a teria visto? O tempo é de loucura, espera e, apesar do progresso e do descaso, o olhar permite que o poeta renasça e retorne à infância em sua interiorização...
Agora, ao longe, a eternidade passa rápido demais e já não é o bastante para embebedar os olhos – não seria bela a figura? Vá embora, deixe o segundo tornar em uma vida inteira...não ouse mais...
Susan Ritschel